Os jovens empreendedores estão reféns da inovação?

Por Fábio Martins, CEO da PROJEK Consultoria

Salvador, 26/01/2021 – Ser dono do próprio negócio ainda é um sonho para muitos brasileiros, principalmente com a escassez atual de empregos. Contudo, tenho observado entre potenciais empreendedores, especialmente os mais jovens, que existe uma tendência exagerada em somente abrir um negócio se ele for inovador, disruptivo, escalável e tecnológico.

Ressaltando isso, recentemente ouvi de um jovem empreendedor que desejava abrir um restaurante temático que suas principais preocupações naquele momento eram os cardápios digitais, apps personalizados, pagamentos por aproximação, sistema mobile de pedido integrado com a cozinha, podendo fazer customizações dos pratos em tempo real e projetores digitais nas mesas gerando um efeito visual interativo para o cliente, baseado em inteligência artificial. Refletindo sobre isso, ressalto que o consumidor quando vai a um restaurante não está somente preocupado com a inovação do estabelecimento e sim em ter uma boa experiência de consumo. Sendo assim, alguns fatores continuam sendo importantes, tais como: estacionamento adequado, recepcionista, ambiente decorado e climatizado, música agradável, equipe bem treinada, banheiros limpos e perfumados, excelência no atendimento, preço proporcional ao serviço, pratos deliciosos e bebidas harmonizadas.

A importância da inovação e da tecnologia são inquestionáveis pois a humanidade chegou até aqui através delas ao longo dos séculos, mas temo que a essência do empreendedorismo da nova geração, esteja sendo ofuscada por um certo modismo em tornar a inovação obrigatória, sem antes avaliar de forma criteriosa as variáveis de mercado. Inovação e empreendedorismo estão diretamente ligados, mas a relação deve ser de parceria e não de subordinação. Deixar de negociar algum produto ou serviço somente por ele não ser inovador, mesmo sabendo que há espaço para a sua comercialização no mercado, coloca em xeque tudo que aprendemos nas últimas décadas sobre gestão de negócios.

É certo que, com a pandemia, houve uma aceleração da digitalização das empresas e negócios com base em inovação tiveram um crescimento significativo e proporcional ao risco do investimento. Porém, em tempos de pós-pandemia, abrir um negócio tradicional, previsível e de menor risco, também se tornou uma possibilidade importante a ser considerada especialmente para os jovens empreendedores, que desejam iniciar suas atividades empresariais num período de incertezas e grande volatilidade do mercado.

Dessa forma, ao longo dos próximos anos, ainda acredito que existe muito espaço para empreendedores de base tradicional, que simplesmente entreguem no prazo a mercadoria, que lavem e passem bem roupas, que façam bons pães e que sirvam uma boa mesa, pois para todos eles o consumidor quer somente uma coisa, ter uma boa experiência de consumo.

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