A internet não será mais a mesma

Por Fábio Martins, mestre em administração estratégica, professor da graduação e pós-graduação em cursos de administração e engenharia, consultor em gestão empresarial e CEO da PROJEK Consultoria

Salvador, 19/03/2021 – A Internet é, sem dúvida, uma das maiores invenções já criadas pelo homem. Desde que surgiu, abriu as portas para novos desenvolvimentos tecnológicos que continuam avançando até hoje, transformando o modo como vivemos e nos relacionamos.

Atualmente, viver sem a Internet é simplesmente impensável, mas certamente o modelo que nos a costumamos está perto do fim. Aquelaideia de democratização da informação possibilitando construir plataformas que pudessem ser acessadas e usadas da mesma forma, por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, está seriamente ameaçada.

Ao longo das últimas duas décadas, as gigantes da tecnologia como Google, Facebook, Whatsapp, Twitter e outras, cresceram sem maiores regulações governamentais, mas uma combinação de nacionalismo crescente, concorrência e preocupações sobre o domínio do mercado de certas empresas globais de tecnologia tem gerado ameaças de repressão regulatória em todo o mundo.

Essas empresas cresceram de tal forma que passaram a poder influenciar nações e sociedades de acordo com a veiculação da informação. Era esperado que isso geraria uma reação em determinado momento, pois como já dizia Newton, para toda força de ação existe uma força de reação que possui o mesmo módulo e direção, porém em sentido contrário.

Dessa forma, temos acompanhado um forte movimento impondo regulações às empresas de tecnologia. A Europa está discutindo uma regulamentação que poderia impor proibições temporárias a empresas de tecnologia dos EUA que violem suas leis. Os EUA chegaram quase a banir o TikTok e WeChat do país por acusações de espionagem e violações à segurança americana.

No mês passado acompanhamos a briga entre o Facebook e o governo australiano em virtude de um projeto de lei que pretende exigir que as gigantes da tecnologia paguem aos editores de conteúdo noticioso por tudo o que eles produzem. Inclusive o projeto australiano sobre a remuneração de editores de notícias tem sido acompanhado com atenção por todos, pois pode ser um modelo a ser adotado por diversos outros países, apontando um caminho a ser seguido na regulamentação e controle sobre as notícias nas mídias sociais.

Certamente estamos caminhando rapidamente para o fracionamento da internet de acordo com as regulações de cada país, pois o que é legal e permitido num país, pode não ser no outro. Esse fenômeno já tem um nome, as “splinternets”, que são coleções de internets com delimitações geográficas de acordo com a legislação, sobre o produção e controle das notícias e informações de cada país.

As “splinternets” representam um forte freio no ímpeto de crescimento das Big Techs e poderão produzir visões diferentes do mesmo fato de acordo com a legislação do país que controla o acesso à produção e difusão da informação, podendo gerar sociedades com avaliações fragmentadas sobre a realidade global. Esse novo modelo exigirá também das empresas de tecnologia, uma reestruturação da estratégia de negócio e infraestrutura operacional, visto que cada país teria seu modo de funcionamento e suas regulações nacionais.

O ideal seria que tivéssemos um esforço transnacional no qual pudéssemos ter uma legislação abrangendo um maior número de países possíveis, preservando a unidade da internet que hoje agrupa os povos em todas as partes do mundo, mas sem ferir a integridade e os interesses nacionais. Claro que estamos muito longe disso, pois existem diferentes interesses na mesa no momento, mas fica aqui o desejo de integração, inclusão e união através da maior rede mundial.

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