Simuladores clínicos contribuíram para o sucesso na separação das gêmeas siamesas em Ribeirão Preto

Salvador, 27/11/2018 – O Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto foi notícia ao se tornar o primeiro hospital no Brasil a realizar, com sucesso, a cirurgia de separação de gêmeos siameses craniopagus: foram cinco cirurgias até que Maria Ysabelle e Maria Ysadora, 2 anos, que nasceram unidas pela cabeça, fossem totalmente separadas. Para fazer história na medicina brasileira, entretanto, a equipe do HC teve a ajuda fundamental da Gphantom, startup ligada ao Supera Parque, que produziu, em parceria com o Grupo de Inovação em Instrumentação Médica e Ultrassom (GIIMUS) do Departamento de Física da Universidade de São Paulo (USP), simuladores clínicos para que os médicos pudessem treinar cada passo da complexa cirurgia.

A oportunidade de participar do procedimento surgiu em novembro de 2017, com o início do planejamento da primeira intervenção, realizada apenas em fevereiro de 2018. “Desde o início, utilizamos imagens das meninas, como ressonância magnética e tomografia para criarmos modelos virtuais e depois modelos impressos em 3D, reproduzindo os crânios em tamanho real”, explica o físico médico Felipe Grillo, fundador da startup.

Os modelos físicos, também conhecidos por simuladores clínicos, permitiram que os profissionais pudessem interagir e verificar as conexões entre as estruturas, além das principais veias e artérias, planejando a melhor forma de executar a cirurgia, inédita no Brasil. “Antes de cada cirurgia, foram realizadas reuniões com a equipe médica para que pudéssemos reproduzir as características de interesse de cada intervenção. Na última etapa, por exemplo, o modelo criado permitiu uma previsão de como as meninas ficariam após a expansão da pele de cada uma delas”, diz.

“Essa é uma importante contribuição de pesquisa tecnológica da Universidade de São Paulo em parceira com uma startup e que foi fundamental para apoio ao sucesso desse caso cirúrgico de alta complexidade e de grande impacto. Esses modelos foram fundamentais para planejar cada etapa e para treinar habilidades, garantindo o menor tempo possível na cirurgia e com sucesso”, enfatiza Adilton Carneiro, professor do departamento de Física da USP e coordenador do GIIMUS. Foram, pelo menos, oito modelos produzidos.

Para Grillo, o uso dos simuladores para treinamentos é uma inovação importante para a medicina no país. “Mesmo com toda a experiência, os médicos envolvidos nessa cirurgia reforçaram a importância da simulação e do treinamento para atingir a excelência no procedimento médico”, finaliza.

Realidade Virtual

Outra startup ligada ao Supera Parque de Inovação e Tecnologia também participou do processo de separação das gêmeas siamesas. A Expanse trabalha com criação de arte interativa, realidade virtual, realidade aumentada, realidade mista, arquitetura, design gráfico, gameficação, além de criação de jogos e aplicativos mobile.

A empresa participou da última etapa de preparação para a operação que separou, definitivamente, as irmãs. “A equipe médica nos convidou para ajudá-los nesse processo, já que estavam bastante preocupados com o stress gerado nos procedimentos de inflagem dos implantes colocados na cabeça das meninas. É um procedimento incomodo e assustador para crianças da idade delas”, explica Ricardo Santos, fundador da empresa.

Para transformar a experiência em algo menos traumático, a startup e a equipe médica optaram por utilizar óculos de realidade virtual com vídeos que fossem familiares para elas. “Os óculos de realidade virtual são uma ferramenta de imersão. Criamos vídeos em 360º com desenhos animados que elas já assistiam e disponibilizamos o equipamento para que elas usassem enquanto passavam pelos procedimentos preparatórios para a cirurgia, reduzindo o estresse e o trauma das crianças”, conta.

Além de contribuir no processo de preparação das irmãs, a empresa encontrou um novo nicho de mercado. “Esta experiência despertou um campo de negócio que não tínhamos mensurado anteriormente. É uma sensação extraordinária saber que além de ser um ótimo negócio, podemos realmente ajudar pessoas com nosso trabalho. Estamos nesse momento criando soluções para os testes iniciais, em procedimentos mais simples, e estamos muito animados com as possibilidades”, finaliza Santos.

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