Agenda 2020: O que esperar do governo e aonde investirá a metade do PIB nacional

Salvador, 17/12/2019 – A “Agenda 2020”, quarta edição de pesquisa anual da Deloitte, traz as perspectivas de 1.377 empresas que, juntas, faturam o equivalente à metade da riqueza gerada no País, totalizando R$ 3,5 trilhões em receita no último ano. Do total de participantes, 62% estão em cargos de conselho, presidência e diretoria. O levantamento abordou as iniciativas que os empresários pretendem conduzir em diferentes cenários da economia e levantou sua visão sobre os pilares da política econômica do Governo em 2019 e as prioridades a endereçar em 2020, visando a construção de um ambiente de negócios mais saudável para a retomada de investimentos e a geração de empregos.

Investimentos — De forma geral, o otimismo prevalece entre o empresariado brasileiro. Sete em cada dez entrevistados esperam que 2020 seja um ano positivo para os negócios. Segundo o levantamento, independentemente do cenário a se materializar no próximo ano, os líderes de negócios pretendem continuar investindo em iniciativas como novas tecnologias (item indicado por 74% dos entrevistados), treinamento e formação de funcionários (73%), lançamento de novos produtos ou serviços (67%) e pesquisa e desenvolvimento (58%). E, em caso de melhora do cenário em relação ao atual, o investimento em novas tecnologias sobre para 94% do total de entrevistados e a formação de funcionários receberá investimentos por parte de 93% das empresas.

“Este resultado da ´Agenda 2020´ sinaliza a preocupação emergente das organizações com as transformações disruptivas do mercado, que interferem hoje na capacidade de competir na era digital. Investir consistentemente em novas tecnologias e no aprimoramento do capital humano se torna então uma questão-chave, especialmente quando a economia se estabiliza e as empresas podem se voltar com mais força às suas estratégias de crescimento no médio e longo prazos”, afirma Altair Rossato, CEO da Deloitte.

Geração de empregos — A maior parte dos entrevistados (72%) indicou que, independentemente do cenário de 2020, pretende manter o atual quadro de funcionários, com ou sem substituições. E quando a perspectiva de melhora da economia se coloca, a maior parcela (58%) passa a sinalizar que pretende aumentar o número de profissionais contratados.

Captação de recursos — Opções como emissão de títulos de dívida e abertura de capital (IPO) são ainda desconhecidas por até metade das empresas participantes da pesquisa. Apesar disso, o percentual e o número absoluto de empresas da amostra que sinalizam interesse em realizar IPO no próximo ano representa um recorde na série histórica da pesquisa (34, ou 3% da amostra total).

Renata Muramoto, sócia da área de Consultoria e líder do CFO Program da Deloitte, analisa que, “após um ano positivo para o mercado de capitais no Brasil, as IPOs despontam como uma perspectiva real em 2020 para um número razoável de empresas. Por outro lado, as formas tradicionais de captação de recursos ainda tendem a predominar, em um contexto hoje diferente do histórico de altas taxas de juros que vivenciamos até aqui. Por isso, a governança e a adoção de boas práticas continuam sendo essenciais para organizações que buscam ampliar suas fontes de recursos”.

Alguns desafios históricos apontados pela pesquisa em edições anteriores se mantêm nesta, pelo que se capta da visão da maior parte dos entrevistados, que reclamou da burocracia no caso dos bancos de fomento e do alto custo, em relação aos bancos de varejo.

Atividade econômica − Quando perguntadas sobre quais seriam as ações prioritárias para que o Brasil tenha um ambiente econômico mais próspero, no qual as empresas possam retomar os investimentos e as contratações, 79% indicaram o estímulo à geração de empregos, item seguido por investimentos em infraestrutura (ferrovias, rodovias, hidrovias e portos, com 57%), ampliação da participação da economia brasileira no comércio exterior (54%) e aumento do número de concessões e leilões (52%).

“É natural a preocupação dos decisores empresariais com a melhoria da infraestrutura do País e da própria participação privada nessa área, por meio de concessões e leilões. Afinal, esses investimentos podem ser especialmente importantes para que o Brasil possa destravar gargalos históricos para as nossas cadeias de produção e distribuição, por exemplo. Dessa maneira, a inserção da economia brasileira no comércio exterior, outra prioridade identificada entre os empresários entrevistados, pode ser facilitada, em um círculo virtuoso no qual investimentos geram crescimento dos negócios e mais riqueza para o País” avalia Renata Muramoto.

Gestão Pública − De modo geral, o empresariado aprova pilares centrais da política econômica conduzida em 2019, como os que levaram à redução dos juros básicos e à reforma da previdência (itens citados com 82% e 76%, respectivamente). A reforma da previdência, inclusive, é ainda tema controverso numa avaliação geral dos empresários. Do total de participantes, 60% consideram que a reforma da previdência ainda favorece alguns grupos.

Por outro lado, há uma expectativa do empresariado de avanços maiores do País em relação ao ajuste fiscal, à redução da burocracia, ao combate à corrupção e a ações de impacto social, como saúde, educação, meio ambiente e segurança pública − estas figurando entre os itens que registraram as maiores taxas de insatisfação. Segundo os entrevistados insatisfeitos com os ajustes fiscais especificamente, o que foi realizado até o momento não se mostrou suficiente para trazer o equilíbrio necessário às contas públicas.

Há também uma demanda do empresariado por mais abertura aos mercados internacionais. Na visão deles, essa abertura deve se dar tanto para mercados tradicionais, como China, Europa, Estados Unidos e Mercosul, como também para novos parceiros que tenham grande potencial de investimento no Brasil.

Reformas — No contexto de discussões sobre reformas modernizantes para o País, a reforma tributária − demanda antiga do empresariado brasileiro − deve ser prioridade em 2020 para estimular um ambiente de negócios mais dinâmico e competitivo, conforme 95% dos entrevistados. Quando solicitada uma avaliação sobre este item, os respondentes não discutem propriamente a importância e necessidade de pagar impostos, mas sim o peso e a complexidade desses tributos. De acordo com 49%, o peso dos impostos e das taxas sobre as vendas e resultados das operações são o maior desafio na área tributária.

Ainda no âmbito das reformas vistas como necessárias, em segundo lugar, aparece a reforma política, com 86% das respostas. Do total de respondentes, 71% indicam como prioritária a reforma administrativa, seguida da necessidade do combate à corrupção (65%), bem como da desburocratização e das novas privatizações (ambas com 54%).

Investimentos sociais — Em um mundo cada vez mais digital e conectado, a preocupação com a formação de profissionais qualificados para lidar com robótica, análise de dados, Internet das Coisas e Inteligência Artificial é mais latente neste levantamento. Dessa forma, a educação permanece como principal preocupação dos empregadores nacionais entre os investimentos governamentais de impacto social. Na pesquisa, 91% dos participantes indicaram que os investimentos do Governo em educação precisam aumentar — parcela maior em relação à edição anterior da pesquisa, que foi de 84%. Em segundo lugar, com 75%, os respondentes apontaram investimentos em saúde, item seguido por segurança pública (69%) e saneamento básico (55%).

“A ‘Agenda 2020’ indica claramente que os líderes empresariais estão acompanhando de perto uma série de temas da agenda pública, especialmente no campo social, e entendem que as respostas a essas pautas são capazes de influenciar a promoção da competitividade e da confiança para a realização de investimentos”, ressalta Altair Rossato, CEO da Deloitte.

Empreendedorismo — No que diz respeito às prioridades para estimular a atividade empreendedora no País, melhorar e ampliar as Parcerias Público-Privadas (PPPs) aparece em primeiro lugar, com 56% das respostas. Este resultado se confirma quando se pede aos respondentes uma avaliação da gestão pública, já que 70% afirmam estar insatisfeitos com o atual curso de concessões, leilões e privatizações porque, em sua visão, estas iniciativas aconteceram em pouca quantidade. Na avaliação de Renata Muramoto, da Deloitte, “a pesquisa evidencia que o empreendedor brasileiro está disposto a apoiar o Estado nas transformações de que o Brasil precisa. Para isso, no entanto, espera a consolidação dos marcos regulatórios que estimulem o investimento privado”.

Em segundo lugar, para estimular a atividade empreendedora, os entrevistados apontam a necessidade de incentivos para que suas organizações se adaptem aos conceitos da Indústria 4.0 e da transformação digital, assim como a melhora nos processos de abertura e fechamento de empresas (ambos os itens com 55% das indicações). Na sequência, surge a necessidade de ampliar a oferta de crédito às empresas, com 50%. “O empreendedor está ciente da necessidade de se posicionar diante das disrupturas externas e, por isso, requer acesso facilitado ao capital e menos burocracia”, complementa Renata.

O que esperar do Governo — Cerca de dois terços (ou 64%) dos entrevistados acreditam que o atual Governo irá endereçar apenas parcialmente todo esse conjunto de prioridades indicadas por eles próprios. As respostas otimistas, daqueles que acreditam que o Governo será capaz de endereçar as prioridades apontadas, empataram com as mais pessimistas, de que ele não terá capacidade de endereçá-las (ambas com 17%).

Metodologia e amostra

A edição deste ano da pesquisa “Agenda” contou com a participação de 1.377 empresas, cujas receitas líquidas da totalizaram R$ 3,5 trilhões em 2019 — equivalente a 50% do PIB brasileiro, considerando o valor deste de R$ 7 trilhões, com base no acumulado de 12 meses até o 2º trimestre de 2019. A distribuição geográfica da amostra dividiu-se da seguinte forma (considerando a sede das empresas): 57% em São Paulo, 16% nos demais Estados da Região Sudeste, 15% na Região Sul, 9% no Nordeste, 3% no Centro-Oeste e 1% no Norte do País. Do total dos respondentes, 62% estão em cargos de conselho, presidência e diretoria. Adicionalmente, 39% das empresas participantes são de bens de consumo, 24% de serviços, 14% de TI e Telecomunicações, 14% de Infraestrutura e Construção e 9% de Atividade financeira.

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