Sucesu 2020 encerra com temas complexos: sociedade líquida, educação no lockdown e segurança híbrida

Para a doutora em Ciências Empresariais, Marta Pimentel, “Temos que viver como se fossemos morrer amanhã, mas aprender como se fossemos viver para sempre”.

Salvador, 01/08/2020 – Uma das palestras mais esperadas no Congresso Sucesu 2020 foi da doutora em Ciências Empresariais e diretora-executiva da Nova SBE Formação de Executivos, Marta Pimentel, que apresentou, de maneira leve e delicada, o painel: Next Generation Education. A especialista atua na área de Inovação e Educação construindo o futuro da educação executiva e é autora do livro Rebranding: Como aproximar uma marca do consumidor, pela Booknomics.

A história da humanidade vem sendo contada pelas empresas de tecnologia. Com o corona, e o lockdown do mundo, ainda estamos em suspensão, tentando entender o que realmente está acontecendo. Nesse contexto, as empresas de tecnologia perderam protagonismo. Os governantes ficaram no centro, em busca de soluções para a saúde coletiva. A humanidade encontrou um inimigo comum: o vírus. Como se esse organismo tivesse capacidade cognitiva. Instalou-se assim um discurso do medo. Estamos vivendo uma overdose de informação. Uma vez é bom usar máscara, outras vezes, não. Gerando uma paralisia do medo, com informações divergentes. Como eu aprendi no Brasil: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, brincou.

Segundo Marta Pimentel, com a evolução da neurociência é possível dizer que o nosso cérebro não distingue o que é real, de uma coisa que queremos muito que aconteça. E o processo de aprendizagem contínua surge como um antídoto contra o pânico e as notícias falsas, inerentes a esse tempo incerto.

Na psicologia, estamos no que chamamos, de uma bolha de hibernação. Tipo: deitar e esperar passar. E no meio desse turbilhão, tem o desafio das fake news e sabemos que uma mentira repetida reiteradas vezes, acaba sendo recebida como verdade. Então, precisamos fazer o unlock do futuro. Sair da zona de pânico. Trazer as pessoas para uma zona de aprendizagem. Uma nova geração de educação. Todos nós temos um papel importante nesse futuro. Aprendendo coisas novas, ajudando as crianças no processo de aprendizado fora das escolas. Na pandemia, várias plataformas se destacaram nessa transmissão de conhecimento online, como o zoom, em cápsulas diárias, pois as pessoas ficam fatigadas ao ficar muitas horas conectadas, aquele velho conceito de que menos é mais”, destacou.

Para Pimentel, a grande proposta é de que cada um de nós deve desenvolver um estoque de competências. “Se for preciso, devemos aprender, desaprender e reaprender. Incorporar novos conhecimentos e evoluir como capital humano”, finalizou.

Segurança Híbrida – O Humano entre as fronteiras entre o físico e o digital”

Excelente explanação da consultora na área de segurança e proteção de dados e doutoranda em Ciência da Informação (Ufba), Elba Vieira. Elba abriu com uma provocação filosófica: quem sou eu? Citando o filósofo polonês Zygmunt Bauman, que cunhou o termo ‘Sociedade Líquida’, ao analisar e definir as relações e comportamentos rápidos e fluidos do mundo contemporâneo, impactados pelo capitalismo globalizado.

Elba falou sobre hiperlink humano. Vida líquida. Internet dos corpos, IA, computação quântica, biotecnologia, big data, computação em nuvem. Tudo isso vem causando profundas transformações em nossa sociedade, tudo isso ampliando a capacidade humana, usando os dados do corpo – biométricos, DNA – por ele desencadeados, digitalizados e lidos/usados em algum momento.

Nós seres humanos, através das plataformas cibernéticas, transferimos parte de cada indivíduo para o mundo digital. A indústria do healthcare tem previsão de movimentar mais de US$ 17 bilhões. A indústria do entretenimento, como as plataformas de músicas, filmes e livros também têm usado intensamente as nossas escolhas, vontades e ideias imputados para montar o nosso ‘eu digital’. No Brasil, temos a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, de 14 de agosto de 2018, que trata de proteção de dados sensíveis, como: saúde, religião, orientação sexual, opinião política. Será que nossos dados estão protegidos de forma adequada? É preciso assegurar a privacidade dos indivíduos, direito humano inviolável, como também sua liberdade de expressão”, pontuou a pesquisadora.

Um outro olhar sobre as tecnologias

A jornalista Silvana Bahia, co-diretora do Olabi, organização social com foco em inovação, tecnologia e diversidade, por onde coordena a Pretalab, projeto que fomenta o protagonismo de mulheres negras e outras iniciativas, fechou o ciclo de palestras do Sucesu 2020 em grande estilo e good vibes. Foi assim, discutindo caminhos para a construção de uma sociedade mais igualitária.

A melhor forma de me descrever é como uma pessoa curiosa, o que tem me levado para novos horizontes. O Olabi surge como um maker space, espaço equipado com máquinas como impressora 3D, impressora laser, mas com muito foco no ser humano que chega ali para desenvolver seus talentos. Buscamos a ideia de democratização. E entendemos tecnologia, muito mais como um meio, do que um fim. Pensando nos impactos do consumo da tecnologia, aliada à pesquisa da diversidade”, ressaltou.

Sil Bahia trouxe dados que mostram como é importante a questão da diversidade na produção da tecnologia. “Em 120 anos, 10 mulheres negras foram formadas na Poli-USP. Por isso o Preta Lab existe. Temos aí um gap de informação. Somos minoria, mas existimos. É importante ressaltar o quanto a tecnologia não é neutra, o quanto ela é enviesada por quem programa, pois é fruto de escolhas humanas. E, sem medo de afirmar, o algoritmo é sim, racista. A representatividade é uma porta para falar de inclusão e culminar em equidade. Para estarmos inseridos nos espaços de poder. Não é apenas uma questão das mulheres, dos negros, mas da sociedade como um todo, quando se quer chegar a um lugar de justiça social”.

Na periferia do Rio, de onde eu sou, e onde vive o Hugo, um rapaz negro, que sabe que o local onde ele vive, furadeiras e guarda-chuvas, podem ser confundidos com armas de fogo. Por isso, o Hugo, da Afroengenharia, responde muito sobre àquela pergunta da contribuição do background, da experiência de vida. Ele cria as funcionalidades cheias de cores, para evitar ser confundido de estar carregando uma arma, quando na verdade estava com uma câmera na mão”, finalizou Sil Bahia.

Painel: Os caminhos da transformação digital

O Governo que não se transformar digitalmente perde a capacidade de governar, nesse mundo cada vez mais digital”, afirmou Ronaldo Lemos, advogado, professor e pesquisador, especialista em temas como tecnologia, mídia e propriedade intelectual.

O case dos 30 a 40 milhões de pessoas fora das bases digitais quando o governo liberou as transferências do auxílio emergencial foi exponencial. Mostrou o quanto estamos fora da curva. Quando se imaginaria que em 15 dias seria possível criar dados bancários de milhões de brasileiros, invisíveis ao sistema bancário por décadas? E um dos desafios que os governos têm hoje é de como se planeja esse processo de transformação digital. Dos grandes países em desenvolvimento, destaca-se a China e a Índia. A Índia, principalmente, com seus 1,2 milhões de habitantes inseridos no mundo digital é um exemplo a ser estudado. A experiência do SAC Digital baiano é exitosa, por desburocratizar o acesso do cidadão, e deve ser divulgada amplamente. Estou aprendendo muito aqui”, ressaltou Lemos.

A gerente de Soluções Estratégicas da Companhia de Processamento de Dados da Bahia (Prodeb), Kátia Argolo, contou como funcionam as soluções em TI criadas para atender às demandas do cidadão e sobre a economia de R$ 20 milhões, com a evolução da plataforma, que já pagou o investimento inicial.

A Prodeb tem essa visão de inovação. Vivenciar a experiência do cidadão não é simples. O desafio está na digitalização dos serviços e a plataforma aprende com a interação do cidadão. A partir do pressuposto de que você tem que revolucionar tudo, é certeza de frustração certa. Então, a diretriz principal é a seguinte: focar na necessidade do cidadão. Não adiantar ofertar um serviço e não ter agilidade de resposta. No serviço público o resultado é imediato. São 60 mil pessoas acessando um serviço de alta demanda em um dia. Quando a gente imaginaria imprimir um CPF ou um CRLV em casa, sem aquele papel moeda?”, diz Argolo, orgulhosa pelo trabalho desenvolvido.

Congresso Sucesu 2020 – Online Version – O evento, em sua primeira versão totalmente online, contou com 11 palestras com nomes de peso do cenário nacional e internacional da TI, e a participação dos principais CIOs da Bahia e empresários do mercado de tecnologia, superando as expectativas de público alcançado.

Para acontecer com tamanha receptividade, o evento teve patrocinadores e parcerias importantes, como: Zoom, Fortinet, Oi Soluções, Suse, Netskope, Trend Micro, Tech Data, BR.Digital, Veritas, Red Hat, CenturyLink, GlobalWeb, MicroFocus, HCL e CA. E das empresas baianas: Portal TI Bahia, TeleData, Produs, TecnoAtiva e X-Site.

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