Se você, assim como eu, nasceu antes dos anos 1990, com certeza se recorda do pagamento na caderneta do comércio

Por Wagner Martin, VP de Negócios da Veritran

Salvador, 30/03/2023 – Hoje em dia, ainda observamos plaquinhas escritas “não vendemos fiado”, mas o fiado já foi moda. Um tempo depois, o fiado evoluiu para o cheque pré-datado, depois crediário e assim por diante até chegarmos no cartão de crédito. O que no exterior as pessoas enxergam como uma revolução, o buy now, pay later, surgiu aqui há muitos e muitos anos com a necessidade do brasileiro de realizar compras e pagar aos poucos. Uma coisa que temos que entender é: nós não possuímos a cultura de pagamentos à vista.

No entanto, bancos e fintechs sempre observam a movimentação do mercado. Qual é a nova necessidade do público? Eventualmente, eles precisam criar soluções que fujam do comum e que atraiam bons clientes. O cartão de crédito a gente já conhece, mas a novidade do mercado é o Pix Parcelado.

Antes de entrarmos nessa novidade, vale contextualizar que o Pix é o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central. Ele foi lançado há pouco mais de dois anos no Brasil, em novembro de 2020, especificamente, e viabilizou a realização de transações financeiras em tempo real, 24 horas por dia, 7 dias por semana. O sistema rapidamente entrou no dia a dia dos brasileiros, permitindo o pagamento instantâneo de contas, transferências entre contas bancárias, pagamentos com cartão de débito ou crédito e a criação de QR codes para recebimentos de forma rápida e fácil.

De acordo com o Banco Central, em 2022, o sistema acumulou 141,6 milhões de usuários, sendo 130,7 milhões de pessoas físicas e 10,9 milhões, pessoas jurídicas. Em dezembro, coincidindo com a data limite para o pagamento da segunda parcela do décimo terceiro salário, pela primeira vez, a modalidade superou a marca de 100 milhões de transações em um único dia. No total, o Pix terminou o último ano com um acumulado de R$ 16 trilhões em volume transacionado desde a sua implantação.

A forte adesão é explicada pelo fato de que o Pix reduziu os custos de transferências, permitiu acesso ao mercado para pessoas desbancarizadas, além de alavancar a digitalização da economia.

Com tamanho sucesso, banqueiros de países como Colômbia e Canadá sinalizaram ao Brasil, no ano passado, o interesse em replicar a experiência brasileira de pagamentos instantâneos. Diante disso, em novembro, os protocolos do sistema foram liberados gratuitamente para que outros países pudessem copiá-lo. A intenção do Banco Central com a iniciativa foi a de atrair ativos digitais estrangeiros para o país.

Após a oportuna contextualização, agora, o BC tem estudado ampliar as funcionalidades do Pix, adicionando, por exemplo, a possibilidade de pagamentos recorrentes, como o Pix Parcelado mencionado acima: uma operação que oferece ao consumidor a oportunidade de pagamento em parcelas sem utilizar um cartão. Exemplificando, um consumidor Y irá realizar uma transação de R$200. Ao selecionar a opção de parcelamento Pix, o lojista recebe o valor na íntegra, sem parcelamento, contudo, o banco oferece a oportunidade ao consumidor de realizar o pagamento por meio da quantidade de parcelas escolhidas por ele.

Outras modalidades do Pix já estão ativas, mas ainda não possuem uma grande adesão do público. É o caso do Pix Saque e do Pix Troco: duas funcionalidades em que o consumidor realiza saques em diversos tipos de estabelecimentos. Acredito que todas as novidades do mundo financeiro primeiro vêm com um pouco de resguardo da parte do consumidor – foi assim com o Pix – mas, depois que sua segurança e praticidade são comprovadas, será visível o aumento de sua utilização.

Partindo para a esfera internacional, hoje, a realização de pagamentos é demorada e é cara. Por isso, outra novidade será o breve lançamento do “Pix Internacional”, que objetiva conectar os mercados de aproximadamente 60 países, solucionando dificuldades como a conversão de diferentes câmbios, além de criar regras de segurança que evitarão usos ilícitos e permitirão a utilização de uma linguagem única para diferentes sistemas de pagamentos entre os países.

Idealizado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, em inglês) o intuito é definir padrões e regras para o funcionamento do sistema bancário mundial. Chamado Nexus, o sistema já está em fase de testes no Uruguai, Malásia, Cingapura e na Itália. Por questões de competividade, os países estão com os olhares muito voltados para a novidade.

A movimentação do mercado está a todo vapor. Brasil está na plena era do Pix, do Open Financie e do Real Digital. De fato, já é possível vislumbrar, inclusive, o que está por vir em um futuro muito próximo, como, por exemplo, novas funcionalidades previstas como o débito automático no Pix, QR Code gerado pelo pagador e o Pix Garantido. Assim como também novas formas de iniciação do sistema como NFC, Bluetooth, RFID e reconhecimento facial. Tudo para tornar o Pix cada vez mais completo e dar maior acesso aos brasileiros a produtos e serviços financeiros.

A tendência é avançarmos para um mercado aberto, de fácil uso e completamente integrado, onde o consumidor é o grande detentor das informações e do controle de suas finanças. Nessa corrida, é necessário que as instituições financeiras se movimentem rapidamente para não ficar para trás. Afinal, onde não há uma solução existe uma fintech a postos para criá-la.

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