Procuram-se investidores de risco!

Por Fabiany Lima, diretora geral da DiliMatch

Salvador, 22/10/2020 – Estou no mundo de startups há um bom tempo e, apesar de parecer que a bagagem e as oportunidades caíram do céu, elas foram conquistadas às custas de muito suor e trabalho ao melhor estilo “empreendedor raiz” – sem pai rico, sem poder estudar um outro idioma até chegar à idade adulta, sem ter um amigo endinheirado altamente conectado para ser o investidor-anjo ou fazer aquela apresentação calorosa (que já preenche metade do cheque) para quem poderia investir.

O estereótipo de “capa de revista” do empreendedor de 20 e poucos anos, que começou um negócio depois de ter a ideia no MBA feito em Stanford ou durante um tour no Vale do Silício reflete, infelizmente, a minoria – principalmente se tratando do cenário empreendedor brasileiro. Mas, ao invés de lamentar, eu sou muito grata pela minha jornada – foram as quedas e as dificuldades que me tornaram quem eu sou hoje, com meus valores e aprendizados.

Por que estou falando disso? Como consultora de investimento em startups, o que vejo é um mundo de ideias e empreendedores lutando para conquistar o mínimo apoio para chegar ao próximo nível e decolar. E o que posso observar ainda é uma clara desproporção entre a quantidade de startups que precisam de investimento e a de investidores para investir no estágio que elas estão.

A despeito dos recordes de fusões, aquisições e investimentos no Brasil, a maioria dos investidores procuram empresas maduras, com tração, resultado sólido e breakeven. Ter investidores para esse estágio não é um problema – cada um trabalha dentro da sua tese e é natural tentar minimizar riscos daquele investimento não “vingar” (apesar de o risco ser bem alto mesmo assim), já que algumas validações já foram feitas e já há alguma receita relevante.

A grande questão que levanto é a falta apoio financeiro para as startups chegarem nesse patamar. Afinal, estamos falando de um país onde, segundo o IBGE, 60% da população ganha menos de um salário-mínimo. Então, mesmo que o empreendedor não precise de um salário para trabalhar no projeto, ele não consegue arcar com certos custos que alavancariam o negócio, tal como o marketing e captação, por exemplo.

Faltam investidores que tenham a coragem de investir em startups early stage, que estão naquele espaço entre o MVP e a tração relevante; entre a ideia e o breakeven, talvez por elas trazerem consigo um risco mais elevado e incertezas maiores, mas é preciso entender que o tamanho do ganho é também proporcional. Quando se acerta minimamente o direcionamento do investimento feito no negócio e a startup consegue chegar no próximo estágio, a chance de saída (receber sua parte com lucro) é alta, e o seu múltiplo de ganho é maior que de todas as rodadas subsequentes.

Outra vantagem desse “risk stage” é o tamanho do aporte: enquanto soluções maduras precisam de uma quantia considerável, uma startup em estágios iniciais pode ser alavancada com valores entre R$ 50 mil a R$ 200 mil, dando a oportunidade para todo empresário, executivo bem sucedido, entre outros, participar desse jogo.

Aos investidores, arrisquem-se mais! O empreendedor aportado neste momento, certamente, dará um imenso valor a cada real investido, buscando multiplicá-lo em benefício de todos os envolvidos!

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