O que os Unicórnios têm a aprender com os Camelos?

Por Felipe Caezar, co-fundador e CEO da HubLocal

Salvador, 21/07/2022 – Nos últimos meses muito se tem falado a respeito das oscilações de mercado e emprego no ecossistema startupeiro. As grandes promessas de negócios, com aporte milionários e valores de encher os olhos (e o bolso) correram solto. Mas uma hora a conta precisa fechar, não é mesmo?

Se você acompanha este setor, certamente deve ter lido algo sobre “Empresa X capta milhões” e meses seguintes a notícia de demissão de diversos funcionários desta mesma empresa. Startups como QuintoAndar, Loft, Olist e ebanx, recém-nomeadas unicórnios, enxugaram entre 20% e 30% do quadro de funcionários. Dados da página LayOff Brasil, que reúne informações de colaboradores desligados de startups brasileiras, mostram que foram aproximadamente dois mil demitidos em junho, totalizando três mil desligamentos só em 2022.

Mas o que de fato tem acontecido com essas gigantes cheias de promessas? É simples e eu te respondo: Planejamento. Enquanto C-Level é necessário traçar alguns pontos, além de ter objetivos e metas bem definidos, como: Por que devo captar? Qual a finalidade? Que tipo de investidor quero ao meu lado? – Afinal, não é só o dinheiro que faz a diferença, mas sim a experiência do fundo (ou anjo). Em quanto tempo vou me pagar? Quais metas quero atingir com este recurso? Quantas pessoas contratar para chegar no ponto “X”? Particularmente, acredito que ter todas as metas bem claras é mais importante do que o valor de captação em si. Até porque, se não for bem aplicado, o dinheiro pode se esvair em poucos meses, como vimos.

Recentemente fiz uma viagem ao Vale do Silício e acompanhei de perto algumas movimentações. A tecnologia já era um futuro certo, mas com a pandemia e a transformação digital que aconteceu, o mercado ficou extremamente aquecido e com os olhos voltados a ele, rolando muitos investimentos, com diversas “techs” e cargos e nomenclaturas à soltas, o que já gera uma possível disparidade no caso de equiparação salarial.

É necessário, também, haver transparência. No início da pandemia muitos unicórnios aderiram ao movimento “Não demita”, meses depois algumas delas chegaram a demitir funcionários. Não basta só ‘surfar o hype’, é necessário coerência e é o tipo de coisa que os investidores agora estão ainda mais ligados.

Em sua definição pura os unicórnios são seres mágicos que são retratados em histórias fantasiosas. O que nos leva a perguntar: será que unicórnios realmente existem? Ou eles foram inventados para trazer à tona histórias de empreendimentos fora da curva? Na série ‘WeCrashed’ essa pergunta é feita para questionar a desvalorização da Startup WeWork, que teve todo seu modelo de crescimento baseado na fantasia de ser um unicórnio. Em contraposição disso, temos as startups que são consideradas “Camelos”, que são seres que existem no mundo real, que, assim como suas corcovas, estão preparadas e realistas para os altos e baixos do mercado. Essa oscilação permite um crescimento sustentável, por ora mais lento, mas estável, orgânico e, de fato, escalável.

O que essas startups unicórnios fizeram foi segurar bruscamente a queima de caixa, pois principalmente nos últimos 2 anos, o acesso a capital estava mais fácil, dessa forma, elas mantinham o ritmo acelerado o tempo inteiro, acreditando que a fonte de dinheiro seria inesgotável. Isso causou um grande dano colateral quando foi necessário frear rapidamente, como necessidade de demissões em massa e a redução das despesas, para que elas conseguissem aumentar o seu “Runway”, que é a métrica que analisamos constantemente para sabermos o quanto de dinheiro ainda possuímos até a necessidade de entrada de novos recursos.

Sobre planejamento e rota, a HubLocal, startup camelo que estou liderando, que faz com que as companhias sejam encontradas em todos os principais mapas e listas da internet por potenciais clientes, tem feito essa lição de casa constantemente. Todos os meses nós analisamos os números de crescimento de faturamento x despesas de perto e trabalhamos com uma espécie de “placar” onde vamos somando toda nova despesa fixa que entra na empresa como salários de novos colaboradores, sistemas, investimento em marketing, entre outras. Aqui a queima de caixa é acompanhada com muito cuidado, o que permite freios não bruscos em momentos de crise de capital como esse em que estamos vivendo.

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