O pagamento como agente transformador da economia na América Latina e no Carib

Por Tânia Oliveira, vice-presidente da Visa Consulting & Analytics para América Latina e Caribe

Salvador, 17/11/2021 – As informações sobre o perfil de pagamentos dentro de uma cidade contam muito sobre sua saúde econômica, terciária e social. Por exemplo, por meio da penetração das transações digitais de um determinado lugar é possível ter insights importantes sobre a formalização do comércio, a inclusão digital, a existência de infraestrutura tecnológica básica e até sobre a arrecadação municipal. Ou seja, o pagamento pode ser um excelente indicador de melhorias estruturais, de força-tarefa e de desenvolvimento de projetos envolvendo os mais distintos players, como bancos, empresas digitais, governo, credenciadores e estabelecimentos comerciais, sob um olhar cada vez mais customizado e regional.

Sempre foi um desejo das indústrias de pagamento e financeira terem um raio-X que contemplasse todas as cidades de um país, de norte a sul, e mostrasse qual o estágio de cada município quando o assunto é o pagamento digital. A solução veio com o Índice de Maturidade Digital da Visa Consulting & Analytics (VCA), um trabalho que analisou mais de 300 variáveis diferentes, como número de cartões por habitante; transações de débito e de crédito; quantidade de caixas eletrônicos; número de agências bancárias; acessos em banda larga; dados de maquininhas de pagamento por habitante e por quilômetro quadrado, PIB; IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e informações populacionais e educacionais.

Agora, imagina a complexidade de fazer isso nas mais de cinco mil cidades brasileiras? E juntando as cidades do Chile, do México e da Colômbia? Foi isso que fizemos e conseguimos construir uma metodologia do zero que se tornou o primeiro estudo proprietário e patenteado pela Visa América Latina e Caribe. Seguem algumas lições que aprendemos nesses três anos de análises.

A primeira delas é separamos as cidades em categorias diferentes: as prontas, com o sistema de pagamento eletrônico robusto; as em transição, com o sistema de pagamento eletrônico avançado; as emergentes, com o sistema de pagamento eletrônico subdesenvolvido; e as iniciantes, com o sistema de pagamento eletrônico não desenvolvido, quase inexistente. E por qual motivo? Assim, conseguimos determinar e mapear exatamente qual tipo de trabalho a indústria e o governo devem focar. Em algumas cidades, não encontramos acesso à banda larga ou presença de caixas eletrônicos, por exemplo. Então, de nada adianta qualquer esforço de aceitação ou emissão de cartão antes de resolver essas questões estruturais.

Percebemos também que muitos dos municípios categorizados como emergentes estão com suas economias prejudicadas. A falta de agências bancárias nas cidades e pela proximidade geográfica desses lugares com pólos econômicos fazem com que os habitantes viagem para as maiores cidades e usem seu dinheiro nos estabelecimentos comerciais de outras regiões. Os comerciantes das cidades emergentes acabam morrendo e tendo que fechar seus negócios por falta de clientes.

Outro insight interessante está relacionado aos impactos diretos do aumento do uso do pagamento digital em ramos da economia. Por exemplo, quando uma cidade se torna emergente dentro dessa nossa metodologia, percebe-se um crescimento representativo na penetração de pagamentos digitais em áreas como Educação, Saúde e Construção Civil (nesse caso, nas compras de materiais para reformas domiciliares, principalmente). Essa evolução é resultado da importância da cidade na região, tornando-se um pólo metropolitano e recebendo nossos consumidores das cidades satélites e menores que se localizam nos arredores.

Entre os países onde implementamos o estudo (Chile, Colômbia, Brasil e México) percebemos uma uniformidade de baixa maturidade digital longe dos grandes centros. O México desponta como o que tem mais cidades proporcionalmente prontas, mas principalmente devido a popularização de seus destinos turísticos que ampliaram a penetração do pagamento digital. Do outro lado, notamos que a Colômbia tem um desafio maior em relação a melhora da infraestrutura de conectividade e de aceitação dos meios de pagamento eletrônicos.

Mas o principal aprendizado diz respeito ao que fazer com essa informação. Temos trabalhado em todos esses países, junto aos governos, emissores, credenciadores, estabelecimentos comerciais e startups para atender as necessidades de cada região. Em alguns casos, precisamos atuar e reforçar a emissão. Em outros, o trabalho tem que ser voltado a aceitação, mas sempre atentos a esse approach customizado. A exemplo, um cliente da Visa que, por meio do Índice de Maturidade Digital de VCA, conseguiu mapear os lugares com caixas eletrônicos nas cidades em que atua e comparar com a localização de suas agências. Com isso, está estruturando toda a sua estratégia para oferecer soluções digitais onde o uso do dinheiro ainda se faz muito presente e, com isso, ajudar a incluir financeiramente milhares de pessoas.

Acreditamos que a adoção do pagamento digital traz benefícios diretos para consumidores, empresas e governos. A redução do uso do dinheiro em espécie tem um efeito catalisador no desempenho econômico das cidades, aumentando o nível de emprego, a produtividade e a arrecadação fiscal. Mas estamos falando de um movimento de indústria. Precisamos do engajamento de todos. A Visa, um emissor, um credenciador ou um estabelecimento comercial sozinhos não vão transformar as cidades da maneira que elas podem ser transformadas. Esse é um movimento necessariamente inclusivo e, somente com este viés, os benefícios dos meios digitais de pagamento poderão se espalhar pelos países de toda a América Latina e Caribe.

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