Fuga dos talentos em TI: educação é a chave para fazer do limão uma limonada

Por Paulo Milliet Roque, Presidente da ABES

Salvador, 28/03/2023 – O mercado brasileiro de software tem crescido significativamente nas últimas décadas, figurando na décima posição no ranking de investimentos, com US$ 45,7 bilhões aplicados, sendo líder do segmento na América Latina. O potencial de expansão é grande e, apesar desse panorama otimista, um dos maiores desafios enfrentados pelo setor é a falta de mão de obra especializada. Ainda que o Brasil se destaque como um polo de inovação e empreendedorismo, com muitas startups em pleno funcionamento, ainda carecemos de profissionais com habilidades em programação, desenvolvimento de software, inteligência artificial e segurança da informação. Trata-se de uma conta que não fecha, e para a qual precisamos buscar um resultado plausível, que se ajuste ao nosso potencial de crescimento.

Para se ter uma dimensão do cenário, o setor de TI tem se destacado em termos de importância nas estratégias de crescimento das empresas, só que a aceleração tecnológica e a necessidade de maior alinhamento com os negócios aumentam com velocidade a lacuna de profissionais com bagagem técnica e comportamental requerida pelas empresas. Em outras palavras, a alta concorrência por profissionais qualificados tem criado um desafio na retenção de talentos. Não se trata, propriamente, de um fato novo. Entretanto, precisamos refletir, e muito, para buscar alternativas que mitiguem esse problema.

É fato que o aquecimento do mercado de TI em nível global tem sido o principal motivador para escassear os profissionais da área disponíveis no Brasil, que são assediados por empresas do exterior — hoje, há uma dificuldade acentuada para a contratação de perfis de segurança, desenvolvimento e nuvem, o que faz com que muitas empresas contratem serviços gerenciados ou profissionais de TI terceirizados para cobrir as lacunas de habilidades técnicas existentes. Por outro lado, a possibilidade de ganhos em dólar ou em euro, a flexibilidade de execução do trabalho (na maioria dos casos em um modelo 100% home office, bem diferente do modelo híbrido, que tem prevalecido por aqui no último ano) e a tão sonhada experiência internacional tornam o nosso mercado um leilão de talentos, onde quem paga os maiores salários, leva. Somando-se a isto, temos os encargos sociais que quase dobram o custo de contratação do profissional, um custo que o estrangeiro não tem.

A formação em massa e a exportação virtual de mão de obra me parecem caminhos que teremos que trilhar. A vantagem virá a médio prazo, quando esses profissionais absorverem os conhecimentos, e usarem o networking e as relações comerciais estabelecidas para criarem seus produtos no Brasil, visando a exportação. Nesta fase, assumiremos um novo papel, migrando de exportador de mão de obra (com baixo valor agregado) para exportador de produtos de ponta (de alto valor).

Nesse contexto, cabe às entidades do setor apoiarem e incentivarem a formação de novos profissionais. A educação é, sem sobra de dúvidas, a chave para reverter esse quadro. Por isso, iniciativas que ajudem a disseminar informações são essenciais para a saúde do nosso setor. Como é o caso da Plataforma RH Tech, que é um hub que tem como objetivo apoiar o desenvolvimento de talentos por meio da disseminação de cursos, fazer a atualização sobre a empregabilidade em tecnologia e promover discussões sobre gestão de carreiras, desenvolvimento de equipes, retenção de talentos, modelo de trabalho híbrido, entre outros temas. Disseminando informações e orientando gestores, empregadores e trabalhadores, apoiaremos a sociedade como um todo nos desafios para a atração e retenção de bons profissionais, fortalecendo o nosso setor e a economia como um todo.

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