Como evitar o fim da era das startups?

Por Alexandre Pierro, engenheiro mecânico, físico nuclear e sócio-fundador da PALAS

Salvador, 29/08/2022 – Mais de dois mil profissionais que trabalhavam em startups perderam seus empregos neste ano, segundo um levantamento do Layoffs Brasil. Há poucos anos, em plena era de ouro dessas empresas, pareceria absurdo cogitar ondas crescentes de demissões e a consequente preocupação em trabalhar nestes negócios. Mas, mesmo diante de um cenário indiscutivelmente preocupante, pode haver uma luz no fim do túnel que evite o fim da atratividade destas companhias no mercado.

Por trás destes números questionadores, a queda do modelo especulativo de negócio destas empresas foi o principal catalisador de seu declínio financeiro. Ideias sonhadoras e tentadoras que costumavam vender estes empreendimentos perante investidores e profissionais foram, aos poucos, exibindo sua perda de eficácia mediante fatores externos que inviabilizaram esta perpetuidade.

Hoje, de nada adianta uma proposta aparentemente vantajosa, sem dados que comprovem sua durabilidade e prosperidade caso seguida em frente – especialmente, neste cenário econômico que, a cada ano, enfrenta maiores danos impactados por inflações permanentes, altas tributações e a inevitável redução de dinheiro nos cofres das empresas.

Comprovadamente, dentre as justificativas que levaram ao fechamento de mais de 1,4 milhão de companhias nacionais em 2021, segundo dados compartilhados pelo Ministério da Economia, está a falta de gestão financeira. Transportando essa lógica para o modelo de negócios até então visto na grande maioria das startups, o aporte financeiro pautado em poderes especulativos não conseguirá mais se sustentar – redirecionando o foco para gestões que estabeleçam, em sua matriz, um modelo financeiramente sustentável.

Em um exemplo claro, o mais recente anúncio do SoftBank Group sobre a aceleração da venda de ativos do Vision Fund – maior fundo de investimentos do mercado de tecnologia – mostra exatamente esse cenário. Após uma onda crescente de prosperidade com um cheque elevado de investimento, a perda de quase US$ 50 bilhões em seis meses obrigou a venda de papéis por um valor completamente abaixo daquele arcado em sua aquisição.

Na tentativa de se prevenir contra maiores danos, as liquidações se tornaram a única alternativa possível, a fim de evitar uma consequência sem retorno. O caso é uma prova nítida de que, as startups que não estenderem seus olhares para estratégias que incorporem uma gestão eficaz às metas estipuladas internamente, apenas estarão fadadas a terem seus empreendimentos deixados para trás na corrida contra o sucesso.

Mais do que nunca, o business empresarial deve ser o grande protagonista de comando destas empresas, com profissionais que se tornem especialistas em termos de negócio e governança. Nessa nova missão, a inovação deve caminhar de forma conjunta em qualquer ação tomada, com o propósito de evitar que as startups entrem em uma ruína sem volta e, ao invés disso, recuperem seu fôlego com uma proposta convergente às necessidades do mundo corporativo.

Após tamanha crise ainda enfrentada, apenas estratégias disruptivas poderão trazer seu potencial à tona novamente – mas, é importante ressaltar que, muito além de ter ideias promissoras, é preciso saber como colocá-las em prática e geri-las adequadamente. A governança para a inovação, como a estabelecida pela ISO 56002, é um processo decisivo nesse sentido, concentrando as energias em prol da realização de valor por meio da inovação.

É por meio dela que todas as definições de objetivos, diretrizes a serem seguidas e métricas a serem aplicadas são estabelecidas – tudo isso, para proporcionar a criação de meios e métodos que gerem valor ao negócio. Além de proporcionar melhoras contínuas aos processos aplicados, essa gestão trará a otimização dos resultados estipulados, feito que é extremamente vantajoso nas startups, mirando uma retomada financeira mais ágil.

Quando fomentada assertivamente, estas empresas terão chances elevadas de recuperarem sua competitividade no mercado, o olhar de investidores globais para seu crescimento e, acima de tudo, atratividade perante funcionários, para que queiram se desenvolver em conjunto com a companhia.

Para aquelas que ainda possuem algum fôlego para driblar as dificuldades enfrentadas, todo o seu core business deve ser aperfeiçoado o quanto antes possível. A condução da operação empresarial que, antes, era pautada apenas na conquista de lucro, não conseguirá mais permanecer igual – exigindo um novo mindset, priorizado por uma governança de inovação, como forma de evitar que as startups cheguem ao fim.

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