Primeiro dia de Congresso SUCESU 2020 traz discussões sobre a Bahia como celeiro em soluções tecnológicas, transformação digital e sociedade pós-pandêmica

Salvador, 29/07/2020 – No primeiro dia do Congresso SUCESU 2020, evento totalmente online, em virtude do atual momento de crise sanitária por conta do novo coronavírus, nesta quarta-feira (29), o painel que trouxe o co-fundador da Vale do Dendê – aceleradora de negócios digitais nas periferias -, publicitário Paulo Rogério Nunes e o diretor do Congresso SUCESU, Marcone Delano, presenteou o público inscrito no evento com um diálogo rico e esclarecedor sobre a interface do mundo da tecnologia com as necessidades humanas da atualidade.

Nunes e Delano trocaram experiências sobre o desenvolvimento humano em meio a tantas inovações tecnológicas, desigualdades históricas, possibilidades de crescimento, aliando soluções tech a elementos da economia criativa.

“Temos aqui em Salvador, o aplicativo Traz Favela [delivery sem preconceitos], uma iniciativa que faz entregas em locais ditos perigosos e evitados por outras empresas do ramo. O que falta mesmo é investimento e que a comunidade de tecnologia abrace essas iniciativas para avançarmos. Pois não há como ter uma empresa dissociada da realidade e das necessidades da sociedade em seu entorno”, analisou Paulo Rogério.

Perguntado sobre como a Vale do Dendê está atuando durante a pandemia, para estimular o ecossistema de empreendedores digitais da Bahia. Paulo Rogério explicou que é possível empoderar negócios locais e tradicionais, usando a tecnologia.

“Estamos vivendo um momento de grande reflexão, um evento de saúde global, que os teóricos classificam como um corte ou a grande virada para o século XXI. Temos um bom caminho a trilhar, buscando incentivar e monetizar negócios locais e tradicionais, como delivery de acarajé, app de mobilidade em comunidades. A Bahia pode ser um celeiro em soluções tecnológicas para o campo. Aqui mesmo no Recôncavo, temos muitas possibilidades de incrementar a economia criativa, alinhando as identidades territoriais” afirmou Nunes.

Várias questões complexas foram tratadas, como: o legado que será deixado para as próximas gerações e a desigualdade entre quem tem acesso ao tecnológico e quem não tem.

“O fato é que, ao mesmo tempo que construímos, temos também o poder de destruição. Nesse contexto de legado, vemos que a escola não prepara as pessoas de fato. Não tem uma educação inclusiva e empoderadora. E isso só aprofunda as desigualdades no Brasil. Por conta de todo um arcabouço de problemas, como, por exemplo, 300 anos de escravidão. As desigualdades se perpetuam”, disse.

Transformação digital, renda básica, educação inclusiva e nova matriz curricular

De acordo com Paulo Rogério, um dos importantes debates da atualidade é em torno da eliminação de postos de trabalho humano, em substituição por robôs. “Por isso, o ser humano precisa entrar na transformação digital, evoluir para atividades mais criativas, reduzindo as ocupações braçais. A revolução tecnológica do século XXI será muito mais impactante do que a revolução industrial, quando as pessoas quebravam máquinas, achando que elas iam tomar seus empregos. É fundamental nesse momento se discutir amplamente a renda básica universal, uma nova matriz curricular é crucial”, pontuou.

Ainda segundo Nunes, com a pandemia, a desigualdade social ficou escancarada. “Ficou evidente o volume de pessoas sem intimidade com o mundo digital. Com a liberação do auxílio emergencial, ficou exposto o exponencial número de pessoas não tinham nenhum tipo de cadastro social. Uma série de questões que vieram à tona: pequenos comércios que nunca trabalharam com delivery, a precarização do trabalho dos entregadores e motoristas por aplicativo”, finalizou o empreendedor social.

Paulo Rogério Nunes é autor do livro Oportunidades Invísiveis – Aprenda a inovar com empresas que apostam na diversidade e geram riquezas -. A publicação mostra a história de empreendedores brasileiros e do exterior que conseguiram enxergar além do óbvio, com iniciativas inovadoras, tendo a diversidade como um grande ativo. Escolhido como um dos afrodescedentes mais influentes do mundo, em 2018, pela organização Most Influential People of Africa Descent.

O futuro te atropela?

Esse foi o principal questionamento do painel apresentado pela futurista, especialista em Inovação, Gerações e Futuro, Beia Carvalho, no primeiro dia de palestras do Congresso SUCESU. Carvalho é presidente da Five Years From Now [um espaço para reflexão do futuro de seus negócios], desde 2008.

Eu sei de um lugar para onde todo mundo está indo. Tem gente que está indo na marra, cabisbaixo. Outros, estão indo sorrindo, seduzidos. Esse lugar se chama futuro. Mas onde está o futuro?”, questiona a pesquisadora.

Para Beia Carvalho, a humanidade mudou mais nos últimos 100 dias do que em 300 anos. “Fomos forçados a repensar como viver, tudo, ao mesmo tempo, em uma velocidade absurda, de alcance global e com uma profundidade insuportável. Nosso estado atual em meio ao Covid. Tais mudanças causam insegurança, desespero. Movimentos como o Vidas negras importam, que poderia ter ocorrido há 100 anos, surge com uma intensidade exponencial. Vivemos em meio às ameaças: biológicas (vírus), político-sociais (fake news), ambiental (desertificação) e o desconhecido (visionários e oportunistas)”.

Transformação digital não é um puxadinho

Beia avançou falando sobre o que estamos aprendendo em meio a tudo isso? Como está a comunicação entre as pessoas? Para ela, quanto mais avançamos, mais nos aproximamos a uma realidade de seres humanos e máquinas.

Estamos vivendo uma pandemia, mas virão muitas outras. Precisamos despertar a visão, ousadia, timing, agilidade, tocar a tecnologia, fazer, tentar e errar, admitir erros. É muito difícil ver pessoas admitindo erros, governantes, religiosos, líderes. E quando se admite,

vislumbramos condições de agir para mudar o presente, aprender com as crianças, principalmente as da geração Alfa, em torno de 11 anos, que estão sempre on. Pois a transformação digital tem a ver com tecnologia e humanidade. Nesse contexto, a inteligência coletiva do século XXI é pautada em diversidade em sua forma mais ampla: etnias, backgrownds. Nessa pandemia estamos conectados com diversos gênios, especialistas que não sabem com o que estão lidando”.

Futuro das coisas e sociedade pós-pandêmica

Comunicação cérebro a cérebro, carros autônomos, drones para passageiros, automated socyety e o impacto nos empregos como conhecemos hoje, social robots (androides com inteligência emocional), deep fakes (vídeos produzidos por meio da Inteligência Artificial). Em quais destes cenários você visualiza o futuro próximo?

Para o especialista em evolução das sociedades e futuro dos negócios da Tata Consultancy Services, Frank Diana, as mudanças sociais estão conectadas a um futuro específico, como por exemplo, um cenário marcado pela Automação de Tudo (robótica avançada, automação do trabalho, etc), que leva a uma preocupação crescente quanto às mudanças sociais relacionadas ao desemprego tecnológico e a velocidade das mudanças nas sociedades cada vez mais conectadas. Diana falou aos participantes do Congresso diretamente de Nova Jersey (EUA), onde ele mora.

As inovações em ciência e tecnologia têm o potencial para melhorar os nossos padrões de vida, de uma forma que as pessoas nem imaginavam há duas décadas. Isso se dá por meio de uma convergência exponencial nas áreas de ciência, tecnologia, economia, social, ética, meio ambiente e política, que impacta diretamente em nosso bem-estar e padrões de vida”, refletiu Frank Diana.

Nesse tempo de incerteza, todos se perguntam como a vida mudará após a pandemia de coronavírus. “A verdade é que já estávamos no caminho de uma mudança maciça. Antes da Covid, o nacionalismo já crescia, a imigração também, o mundo já enfrentava o impacto da globalização nos empregos. A pandemia serve como um acelerador em alguns casos, e um obstáculo em outros. Mas fiquemos atentos; previsões anteriores de vida após pandemias não deram muito certo”, avaliou o futurólogo.

IA: A tortuosa jornada dos protótipos ao mundo real

A Inteligência Artificial não é inteligente. Ela é uma simulação da inteligência humana. Apenas um algoritmo, não compreende a realidade. Por isso, é tão importante fomentar os talentos, pois são esses talentos que vão nos levar a outro patamar da experiência humana”, assim começou a participação do professor Cezar Taurion, que é partner e Head of Digital Transformation da Kick Corporate Ventures e presidente do i2a2 (Instituto de Inteligência Artificial Aplicada).

Uma das principais ressalvas de Taurion durante toda a sua explanação foi a questão de aprender a lidar com os erros. “Estamos no início da curva de aprendizado da IA. Num comparativo, como se fosse a internet do ano 2000. O que temos hoje será uma forma primitiva quando chegarmos em 2040. Vamos pegar o exemplo de uma universidade americana, que treinou pombos para detectar câncer. O resultado foi surpreendente, mas não se trocou os médicos por pombos. O mesmo com a IA, que responde conforme o treinamento. Tentativa e erro. E nós temos dificuldade em transferir conhecimento. O que acontece quando o sistema não reconhece determinado dado ou imagem? Ele vai responder totalmente errado, pois não tem senso comum.”, analisou.

Para o estudioso, os executivos precisam ter a clara definição do que é a IA, os critérios éticos, desde o início do projeto.

“A evolução é exponencial. Portanto, temos que pensar de forma exponencial e não-linear. A evolução da IA é uma realidade. Está nas atividades mais básicas, como na saúde, em análises de crédito, carros autônomos. Não devemos olhar a IA como uma simples tecnologia. Temos de estar preparados para o contexto em que a Inteligência Artificial venha se tornar a base do conhecimento computacional”, sentenciou Cezar Taurion.

Taurion é autor de nove livros que abordam assuntos como Transformação Digital, Inovação, Big Data e Tecnologias Emergentes.

O professor Silvio Meira não ministrou a palestra de abertura do Congresso Sucesu 2020. O professor emérito do Centro de Informática da UFPE, no Recife, será uma das personalidades do segundo e último dia do Congresso, nesta quinta-feira (30).

Meira é professor extraordinário na Cesar.school, cientista-chefe na The Digital Strategy Company e fundador-presidente do Conselho de Administração do Porto Digital.

O acesso para o segundo dia foi liberado para todos. Acesse o link: https://videos.netshow.me/t/5s88SK9zl1A

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