Na trincheira: Apreensivo, mas energizado

Por Alexandre Ostrowiecki, CEO Multilaser e criador do Ranking dos Políticos

Salvador, 22/03/2020 – Sei que esse pode ser um sentimento bem estranho para alguém expressar nesse momento de pandemia e pode levar muita gente a torcer o nariz, mas é a verdade: estou energizado e com vontade de ir pra cima. O problema é seríssimo, tenho consciência, e não devemos brincar nem por um segundo com a enorme ameaça do Covid-19. Haverá sofrimento, perdas e muitos impactos sociais por todo o globo. Estar energizado não significa abrir mão de todas as precauções possíveis para reduzir a velocidade do contágio e nem estar ausente de medo. Eu o tenho, e muito.

Por outro lado, sou também um grande fã da força mais poderosa do mundo: a inesgotável genialidade da mente humana. Há pessoas excepcionais, racionais, objetivas, que entendem os problemas como eles são e buscam soluções. De todas as eras da nossa longa existência, possivelmente o melhor momento para se enfrentar o Covid-19 é agora: Internet, wi-fi universal, videoconferência, robotização, aplicativos de transportes e entregas, todas essas tecnologias permitem que a gente continue operando as cadeias de suprimento necessárias para sobrevivermos com o menor contato humano direto possível.

Sinto gratidão, maravilhado, aos feitos dessas pessoas, que reclamam pouco e fazem muito, seja inventando as novas tecnologias, aperfeiçoando produtos, dirigindo sozinhos os transportes que levam mais carga que vinte mil seres humanos, operando as máquinas construtoras de hospitais ou estudando as novas doenças em seus laboratórios. Será desse tipo de pessoa realizadora que virão as vacinas e os remédios antivirais de que tanto necessitamos para tratar o problema.

Até lá, estamos em guerra, não tenham dúvidas. E, entre as trincheiras dessa batalha, estou ciente do meu papel, como liderança empresarial, de estar na linha de frente. Vou fazer tudo ao meu alcance pra cuidar bem dos meus colaboradores e, dentro do que eu puder, de toda a sociedade. Isso envolve praticar todas as recomendações de segurança individuais e coletivas, a fim de sermos um elo na caminhada do fim do Covid-19. Ainda, resistiremos para manter minimamente, de forma consciente e segura, as operações empresariais e o abastecimento de produtos. Cada engrenagem é importante para evitarmos um colapso econômico. Afinal, se existe algo que essa crise nos ensina é que estamos literalmente na mesma embarcação. Discurso nacionalista nessa hora cola até a página três; após resta somente o problema global, que requer solução na mesma escala.

Vamos passar por dias difíceis. O sistema de saúde poderá ser pressionado até o colapso se não houver consciência e colaboração. As cadeias de produção sofrerão grande queda e a economia declinará, empregos serão destruídos aos montes, mas eventualmente isso vai passar. Quero crer que sairemos mais fortes e, com sorte, mais sábios. Eis algumas lições que vou torcer para aprendermos, enquanto seres humanos:

• A maioria dos problemas que achamos ser gravíssimos é na verdade, irrelevante. Vamos nos estressar menos, brigar menos, compreender mais;

• Menos extremos, mais soluções de centro, em torno das quais possamos agregar muita gente;

• O bom governo é responsável e econômico nas épocas normais, mantendo grandes reservas de recursos para agir decisivamente em situações de crise, sem ficar batendo cabeça;

• Podemos viver com menos, ostentar menos. Vamos aprender que estar perto das pessoas amadas e ter tempo pra dedicar a eles pode ser mais interessante do que trabalhar excessivamente para comprar coisas que não precisamos;

• Vamos descobrir uma nova rotina possível, não irresponsável em relação ao trabalho, porém com mais equilíbrio e significado;

• Que a racionalidade triunfe sobre o pensamento fundamentalista.

Apenas alguns desejos para que toda essa tempestade tenha significado. Até lá, estarei por aqui, defendendo um pedacinho da trincheira.

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