Israel – Startup Nation: foco, inovação e religião

Por Italo Nogueira, empreendedor serial, presidente da Federação Assespro e maratonista amador.

Salvador, 19/02/2020 – Após uma semana em Israel, com o objetivo principal de participar do Ourcrowd Global Investor Summit 2020, realizado por essa plataforma global de investimentos chamada Ourcrowd, pude colher diversas visões sobre esse país impressionante, que é um exemplo para qualquer empreendedor. O evento em si, com participação de mais de 20 mil investidores e empresários de mais de 180 países, já chama atenção.

Reúne os principais fundos de investimentos globais, as empresas mais inovadoras do mundo e, inclusive, parte dessas empresas que já são “unicórnios” que querem se ver transformadas em “decacórnios”, empresas com valor estimado de mais de U$10 bi. Capitaneado pelo fundador e CEO Jonathan Medved, o Ourcrowd possui sob sua gestão US$ 1,5 bilhão (ou cerca de R$ 6,4 bilhões) para investimento em empresas inovadoras.

Mas vamos pelo começo. De acordo com a Bíblia, o Shabbat (sábado) é considerado o “dia do descanso” e é dedicado exclusivamente ao equilíbrio da harmonia das famílias com Deus. Todas as obrigações profissionais e financeiras devem ser evitadas durante o Shabbat. A semana começa literalmente no domingo e assim começou a minha no caminho para Haifa. Fui conhecer o Technion, Instituto Tecnológico de Israel, considerado o MIT daquele país.

Um complexo magnífico focado no desenvolvimento do futuro e das inovações que mudarão a história da humanidade. Alguns ganhadores do Prêmio Nobel fazem parte dessa relevante instituição. Atualmente chamam atenção dois experimentos como parte de um projeto conjunto de cirurgias em microgravidade (parceria Israel/Itália) e lançamento espacial previsto para o final de março

Com muito interesse também, tive a chance de conhecer o The Weizmann Institute of Science, que é uma das principais instituições multidisciplinares de pesquisa nas ciências naturais e exatas. Biólogos, químicos, matemáticos, cientistas da computação e físicos em 250 laboratórios estão dando andamento a milhares de pesquisas que servem de base para aplicações do mundo real e uma compreensão cada vez maior do mundo. Um espetáculo.

Três de seus pesquisadores, com menos de 42 anos, acabam de ganhar o Blavatnik Awards, que concede prêmios de US$ 100 mil para pesquisas. Nesse caso, os vencedores estudam as áreas de privacidade e segurança de dados pessoais, genoma humano e metodologias computacionais e bioquímicas para estudar proteínas e suas interações, gerando ideias e ferramentas importantes para captar a infraestrutura molecular das células vivas.

No tocante à cultura e a forma de enxergar o trabalho coletivo, como estou, com muito orgulho, liderando a maior associação empresarial de TIC no Brasil, a Federação Assespro, pude conhecer de perto a dedicação dos jovens com o seu país.  Desde cedo, servem ao exército, onde tarefas e responsabilidades são assumidas diariamente. Muitos deles também passam anos da juventude em kibutz e lá aprendem a importância do trabalho em grupo. Começam a pensar muito cedo sobre competências, empreendedorismo e como realizar boas missões. Qualquer empreendedor com que conversamos tem um orgulho de ter passado por essas experiências.

Pois se os números mostrados no começo do artigo parecem gigantescos para a nossa realidade, o que ficou de mais impressionante nessa jornada foi ver como estratégia e política pública bem pensada podem contribuir para o desenvolvimento de uma nação. Lá, o governo desenha e implementa, de forma muito ágil, tudo aquilo que foi pensado. Pela questão cultural e do seu passado, precisam executar rapidamente tudo o que foi traçado. Querem dominar a inteligência artificial e também algumas tecnologias que irão transformar as diversas verticais, da construção civil ao varejo, saúde, mobilidade, esportes indo até as indústrias de uma maneira geral.

Proveitoso e desafiador escutar e ter tido a oportunidade de participar neste momento de tantas transformações globais. Ver a apresentação de Shlomo Dourat, fundador do fundo de investimentos Viola, com quase US$ 9 bi investidos em empresas inovadoras, verificar que Saul Singer, co-autor do livro “Startup Nation”, teve todas as suas previsões mais do que atingidas, ter tido aulas sobre investimentos com os maiores fundos globais, como Michael Eisenberg do fundo Aleph, Ron Kruszewski chairman e CEO do Stifel, 7º fundo global com quase US$ 300 bi em sua carteira. Não foi pouca coisa.

Para finalizar, uma visão de inovação do presidente global do grupo japonês NTT, Jun Sawada, bem como uma aula do CEO do Israel Inovation Authority, Aharon Aharon, falando do percurso até aqui e também dos grandes desafios que estão por vir.

Dentro desse momento magnifico, ao final do evento, tivemos a premiação anual que é concedida para alguém muito relevante para o ecossistema de Israel. Ganhou a Dra. Ruth Arnon, pesquisadora de 87 anos, que criou a droga para ajudar quem tem esclerose múltipla, fundadora e sócia da startup Biondvax. Isso demonstra que não tem idade, gênero ou qualquer desculpa quando se tem vontade política, investimento em educação, inovação, empreendedorismo e, principalmente, um trabalho coletivo pelo bem de todos.

Obviamente que não poderia terminar essa jornada, sem visitar a Old City na terra santa, passar pelos caminhos que o grande arquiteto do universo passou, tocar no muro das lamentações, entrar na igreja do Santo Sepulcro, umas das maiores experiencias que já pude vivenciar.  Mas, como o tempo era curto, tive que fazê-lo às 6h da manhã realizando a minha corridinha matinal. Para um maratonista amador, só mais um ótimo ingrediente dessa jornada maravilhosa.

Que todos possam conhecer, desfrutar, tocar aquele solo sagrado, não esquecendo das grandes lições do passado e também desses grandes ensinamentos para o nosso futuro.

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